23.3.06

A encomenda chegou na tarde de sexta-feira. Dois dias além do prazo previsto, mas naquele momento ele não dava a mínima pra tal fato. A ansiedade era tanta que nem percebeu ter fechado a porta na cara do carteiro.

- Tem que assinar, irmãozinho!

Abriu a porta, e com as mãos trêmulas, assinou o documento com certa dificuldade. Depois fechou novamente a porta na cara do carteiro, que não poderia ter usado expressões melhores para mostrar seu repúdio àquele tratamento.

Dirceu pôs a caixa em cima da mesa, sentou-se no sofá e ficou ali, olhando fixamente para ela. Apoiou os cotovelos nas pernas, o queixo nas mãos e depois disso não moveu mais um músculo, por um bom tempo. Quase uma hora, pra ser mais exato. Apenas contemplava aquela caixa, cujo conteúdo havia lhe custado um divórcio, uma alta soma de dinheiro e olhares de repulsa do seu irmão mais velho.

- Se mamãe estivesse viva, ela teria morrido de novo depois dessa.
- Estou com a consciência tranqüila, é isso que vale.

Depois de muita reflexão, resolveu abrir a caixa. Retirou os grampos e isopores com extrema cautela, como se fosse um neurocirurgião operando o Presidente da República. “Nossa, é muito mais bonito do que imaginei!”, pensou alto. Depois espanou a poeira, com um sorriso que ia de um canto a outro da boca. Ligou na tomada, respirou fundo e apertou o botão POWER.

Pena que Dirceu não tinha o costume de ler manuais. Do contrário, saberia que a tomada devia ser de 220 volts.